
Nos últimos tempos, todos temos ouvido falar muito de inteligência artificial (IA).Surge nos mais diversos contextos – na música, no cinema, na saúde, na justiça, nas empresas, nas escolas – e, também, na Psicoterapia.
A aplicação da IA na Psicoterapia surge de várias formas: desde chatbots que oferecem escuta emocional, a plataformas que analisam padrões de fala e escrita para detetar sinais de depressão ou ansiedade. Há também sistemas de apoio à decisão clínica que sugerem abordagens terapêuticas com base num grande volume de dados. Exemplos deste tipo de plataformas são a Woebot, Wysa, Replika, Youper, Mindstrong ou Ellipsis Health.
Mas será que faz sentido? Pode a IA realmente ajudar-nos a lidar com as nossas emoções, dificuldades e traumas?
Se por um lado a IA traz novas possibilidades para melhorar o acesso à saúde mental, por outro levanta questões éticas, técnicas e humanas que não podem ser ignoradas.A Psicoterapia é, acima de tudo, uma prática relacional e profundamente humana — e é aí que reside a sua complexidade, quando confrontada com algoritmos. A Psicoterapia não é só técnica: é relação, é empatia, é presença humana, é “ler nas entrelinhas”, é dar aconchego e tranquilização. Por mais sofisticado que seja um algoritmo, não possui empatia genuína, nem capacidade de compreender o sofrimento humano no seu contexto mais íntimo. O risco de desumanização do processo terapêutico é um perigo que devemos ter em atenção.
Outro desafio relacionado com a IA tem a ver com a privacidade e segurança dos dados.Quando usamos ferramentas digitais para partilhar as nossas emoções mais íntimas, os nossos traumas, a nossa vida, temos de confiar que essa informação não será usada de forma errada ou partilhada sem o nosso consentimento. Infelizmente, nem sempre existe este nível de segurança e a informação por ser disponibilizada e partilhada para outros fins (por exemplo: fins comerciais).
O risco de diagnósticos errados ou simplistas, a falta de supervisão clínica por Psicólogos ou Psiquiatras e a redução da complexidade emocional são também questões técnicas e éticas que algumas destas plataformas não dão resposta.
Em suma, a IA pode oferecer um contributo importante para o futuro da Psicoterapia, mas é essencial manter uma visão crítica, por forma a não comprometer aquilo que há de mais precioso no processo terapêutico: a relação humana. A IA pode e deve ser usada como ferramenta auxiliar — nunca como substituto da relação terapêutica.
Num mundo cada vez mais digital, é urgente lembrar que cuidar da saúde mental exige mais do que algoritmos — exige presença, escuta e humanidade.
A equipa da Unicare pode ajudar!